quinta-feira, março 16, 2006

Clandestino

Coisa velha pra caralho!

Clandestino

Já é noite e ainda inquiro-me sobre os feixes de luz que há pouco enchiam o aposento; tão belos! Atravessavam livremente essas janelas que me cercam e refletem a essência do próprio eu. Rara já é a luz. E a mente, traiçoeira, que se recusa a trabalhar harmoniosamente: “dane-se Jung e suas idéias sobre a plenitude do ser!” – cospe. “Ó, Super-homem, obra platônica do digníssimo Zaratustra, queime no inferno!” – ainda insiste. “Encheram-me de falsas esperanças tais utopias. Meras calhordices escritas entre quatro paredes espelhadas!”.

Se a indiferença que agora me pressiona outrora foi prevista e explicada em obra qualquer, que venham as santas palavras! Mostrem-me as sendas da dita plenitude, se assim o é! Pois a meus pulmões – ou seria a meu coração? - fora amarrada uma corda de injusto descaso, e como doeu quando apertaram aquele nó! Abruptamente, fazendo-me gemer como um porco agonizante e humilhando-me a cair de joelhos.

Não mais leio os desgraçados autógrafos, todos despidos de calor, em ausência do astro essencial que nos apresenta a Senhora Manhã e, após esbanjar de toda a imponência do firmamento, nos brinda com a Mãe Noite. Está sumido o sol. É noite.

Impulsos próprios de consolação tentam me convencer de que a dor é simples passageira. Afinal, o que não o é? A própria vida é temporária, passageira; e passa ligeira! Quisera eu poder sentir-me feliz sem antes passar pelos desertos da tristeza. Quisera eu poder passar cada segundo desta vida com um sorriso verdadeiro e contagioso. Ah! como sonho... e sequer preguei os olhos.

Agora vejo água descendo pelas janelas e se arrastando dolorosamente por meu semblante desgastado. Está a chover, estou a chorar. Covarde lágrima que não se agüentou e desceu rolando pelas encostas do amor; e rola sem pressa! Apenas a esperar que o astro essencial ostente-se imponente novamente e, com um sorriso dos mais quentes, evapore-a.